domingo, 9 de setembro de 2012

A versão moderna da fábula "A Raposa e as Uvas"

por Nelson Fukuyama

Fonte da imagem: Internet
"A parreira de oportunidades era mesmo atrativa e havia muitos cachos com vagas em diversas áreas. Para alcançar cada cacho de vaga, cada um dessas centenas de milhões de profissionais utilizava-se de um argumento como degrau de uma escada para alcançá-lo.

Alguns milhões tentavam alcançar o seu cacho de vagas usando como degrau o peso do seu diploma. Haviam cursado ótimas faculdades, estiveram sempre cercados de colegas de elevado grau de inteligência, conhecendo todos os argumentos necessários para conseguir a sua oportunidade. Esses andavam de um lado para o outro, avaliando as vagas, enquanto esbarravam em outros colegas da profissão, formados há mais tempo, que também estavam em busca de uma oportunidade.

Havia dentre aqueles milhões os jovens profissionais que passeavam debaixo daquela parreira de oportunidades enquanto observavam cada uma delas apenas com aquele olhar de quem apenas avalia um objeto de consumo. Esses estavam seguros e tinham mais tempo para avaliações porque podiam investir em sua carreira. Não tinham preocupações em ter uma vaga para ganhar dinheiro, afinal, porque a família lhes dava condições para isso. 

Outros tantos, e poucos, estavam ali, tentando alcançar o seu cacho, com ar de quem estava seguro de que tinham talento para um deles, da oportunidade que estava sendo apresentada. Avaliavam cada cacho de vaga, procurando aquele que mais lhe parecia adequado.
A grande maioria estava ali rondando a parreira, porque alguém havia lhe falado. Para esses, era apenas uma ocasião de conhecer a parreira e os cachos. Não estavam preparados para esse momento. "Caíram de paraquedas" como diriam depois. Olhavam, ouviam conselhos de outros sobre a melhor forma de atingir cada cacho de vagas.

Assim era o momento em torno da parreira. O tempo passava e todos os interessados ficaram ali por muito tempo. Afinal que conseguiu pegar uma dos cachos com vagas?
Claro que não foram aqueles que estavam como grande maioria pois eles nem esperaram muito para perceber que eles não tinham nenhuma estratégia para subir na parreira e conseguir os seus cachos. "Essas oportunidades não estavam mesmo à altura das minhas exigências e capacidades", disseram, enquanto iam embora, desistindo de vez de tentar.

"Esses cachos para mim também estão cheios de vagas de emprego que não me satisfazem" diriam também os jovens que estavam usando como degrau a sua capacidade de poder investir em sua carreira. "Hei de achar um cacho em outro lugar, porque não vejo nenhum desses como forma de me completar profissionalmente", podia se escutar alguns dizendo enquanto partiam para outra parreira.

A parte boa dessa fábula modernizada é que apenas alguns dentre milhões de interessados conseguiram subir na parreira e pegar um dos cachos de oportunidades. Dentre esses estavam alguns poucos dos que usaram o seu talento como escada, e outros poucos que usaram o peso do seu diploma de curso superior em uma instituição renomada. Também, em uma quantidade mínima, estavam os que conseguiram um cacho enquanto tentaram e acabaram tendo algum pouco se sorte.

Como podemos ver, essa fábula moderna tem um final diferente daquele contado por Esopo. Na fábula original a raposa não conseguiu subir na parreira e pegar um cacho após várias tentativas. Aqui, fica o exemplo de como funciona o mercado de trabalho para quem está buscando e concorrendo a uma vaga de emprego, tendo ou não experiência. Muitas pessoas estão vivenciando essa experiência e apenas algumas irão alcançar o seu cacho. 

Conta-se que milhões de pessoas, jovens e com menos experiência, cheios de expectativas chegaram debaixo de uma parreira de oportunidades de emprego e seus olhos brilharam nesse momento de suas vidas porque cada oportunidade de conseguir uma vaga de emprego representava sucesso, fama e com isso teriam uma vida com muitos planos e muitos recursos financeiros para ter o que quisessem." 

CONSIDERAÇÕES DA BLOGUEIRA:
Achei muito interessante essa versão moderna da fábula do grego Esopo, fazendo uma apreciação crítica em relação aos profissionais em busca de  uma posição no atual mercado de trabalho. As tecnologias estão cada vez mais modernas e dinâmicas, o processo de comunicação é ágil, o perfil dos consumidores é mais exigente e busca produtos excelentes com baixo custo. O mercado de trabalho atual obviamente mudou e muito.

As empresas buscam a melhor mão de obra, oferecem remuneração nem sempre muito atrativa e tudo isso impacta de forma contundente no mercado de trabalho. Os processos de recrutamento são mais acirrados e tecnológicos, o processo de seleção é exigente, moroso e nem sempre contempla às necessidades dos candidatos que buscam excelentes posições com excelente remuneração e em contrapartida as empresas tem suas necessidades específicas, que são incompatíveis entre os envolvidos.

A nova versão da fábula não cita os excelentes profissionais maduros (acima dos 40/50 anos) que tem dificuldades de recolocação, seja por preconceito pela sua idade, seja por sua carreira profissional ou seja pela barganha financeira do mercado de trabalho que nem sempre deseja (ou pode) remunerar justamente - olhando com visão sistêmica, devemos lembrar que o Brasil é líder absoluto em arrecadação tributária e enquanto as empresas continuarem pagando impostos pesadíssimos o mercado de trabalho não irá melhorar. Havendo reforma tributária, as empresas serão menos oneradas e terão melhores condições financeiras de investir em seus cargos, salários e remuneração para desenvolver, reter e atrair seus recursos intelectuais.

O mercado de milhões de perfis de profissionais e cada posição exige determinado perfil, portanto em cada seleção, muito óbvio que inúmeros candidatos serão preteridos, pois a concorrência é grande. Dependendo do histórico profissional e das necessidade pessoais de cada candidato, há os que são mais seletivos e buscam oportunidades com critérios mais exigentes e há os que são menos seletivos e apresentam critérios menos seletivos. Há vagas para ambos os perfis, o que importa é que o profissional tem o livre arbítrio de aceitar ou não as propostas do mercado.


O texto com as considerações da blogueira é de propriedade intelectual de:
Simoni Aquino
Consultora em Gestão Estratégica de Pessoas

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