por Simoni Aquino
Arte: Alex Bonfim |
Como filha de professora, a educação sempre foi importante em minha família. Não fui criada somente por uma excelente mãe, o que já é uma dádiva, mas também por uma educadora rigorosa, que buscava formar cidadãos. Minha heroína se foi há 18 anos, mas seus valores estão presentes em minha vida, não só para honrá-los, mas especialmente como forma de homenageá-la.
Este blog fala sobre mercado de trabalho e RH, mas especialmente sobre Gestão de Pessoas; e acredito que GP inicia-se na escola na figura de nossos professores e se estende aos bancos universitários. A Gestão de Pessoas em nível corporativo depende da educacional e são poucos os que fazem essa ligação.
O mercado de trabalho está acirrado e é incontável o número de profissionais desempregados, mesmo os que tem nível superior, o que para alguns não é diferencial já que não conseguem pôr em prática o aprendizado adquirido (através do CHA). Talvez porque nossa educação é fraca, pelo baixo investimento governamental (não é crítica a nenhum governo específico, já que este é um problema de décadas), mas sem falar no próprio desinteresse dos alunos pois para alguns, o que vale é tirar o "diploma".
Quem nunca viu os bares em frente às faculdades lotados de alunos em pleno horário letivo? E os alunos que levam à sério em dias de prova ainda sofrem assédio para "passar cola" aos que não assistem as aulas.
Mas isso não é da minha conta, só sei que nunca matei aula e nem precisei colar em provas! Mas o fato, é que isso tudo se reflete no mercado de trabalho!
Retomando, hoje homenageio os professores (e minha mãe) trazendo o discurso da Profª Amanda Gurgel proferido na Assembleia Legislativa de RN em 10.05.11, que não deve ser encarado como um discurso local, mas algo que sintetiza a educação nacional. Palavras corajosas de alguém que fala com propriedade, pois traz a realidade da educação atual. A intenção não é humilhar os professores em seu dia, mas valorizá-los! Pois um profissional que passa pelo que passa e ainda busca fazer o seu melhor, merece todo o nosso respeito!
E fica a dica aos profissionais que buscam formação universitária só pelo diploma: Cuidado! O mercado de trabalho está cobrando um preço muito caro por isso...
"Bom dia a todas e todos!
Durante cada fala aqui
eu pensava como organizar a minha fala. São tantas questões aqui colocadas e
angústias do dia a dia de quem está em sala de aula e quem está em escola, eu
queria pelo menos sintetizar minimamente essas angústias.
Como as pessoas apresentam muitos números
e sempre colocam que os números são irrefutáveis, gostaria também de apresentar
um número pra iniciar a minha fala. Que é um número composto por 3 algarismos
apenas, bem diferente dos números que são apresentados aqui com tantos
algarismos (se referindo aos parlamentares da Assembleia Legislativa) que é o
número do meu salário: Um nove, um três e um zero que é meu salário base - R$930,00.
Aí eu queria fazer uma pergunta a todas e todos que estão aqui sem nível superior
com especialização: se vocês conseguiriam, mas só respondam se não ficarem
constrangidos obviamente, se vocês conseguiriam sobreviver ou manter o padrão
de vidas que vocês mantém com este salário de R$930,00? Não conseguiriam.
Certamente esse salário não é suficiente pra pagar nem a indumentária que os
senhores e as senhoras utilizam pra frequentar esta casa aqui, não é?
Assim, minha fala não poderia partir de um
ponto diferente desse, porque só quem está em sala de aula, só quem está
pegando três ônibus por dia para chegar ao seu local de trabalho, ônibus
precário inclusive, é que pode falar com propriedade sobre isso. Fora isso,
qualquer colocação que seja feita aqui, qualquer consideração que seja feita
aqui é apenas para mascarar uma verdade, que é uma verdade visível a todo mundo:
que é o fato de que em nenhum governo, em nenhum governo que nós tivemos no
nosso Estado (Rio Grande do Norte), na nossa cidade, no nosso país, a educação
foi uma prioridade. Em nenhum momento. Então me preocupa muitíssimo a fala da
maioria aqui, inclusive da secretária Betânia Ramalho, com todo respeito, que
é: “não vamos falar da situação precária porque isso todo mundo já sabe”.
Como assim não vamos falar da situação precária?
Gente! Nós estamos banalizando isso daí, estamos aceitando a condição precária
da educação como uma fatalidade. Estão me colocando dentro da sala de aula com
um giz e um quadro pra salvar o Brasil? É isso? Salas de aulas super lotadas
com os alunos entrando a cada momento com uma carteira na cabeça, porque não
tem carteira nas salas. Sou eu a redentora do país? Não posso, não tenho
condições. Muito menos com o salário que eu recebo!
A secretária disse ainda: “que nós não podemos
ser imediatistas, ver apenas a condição imediata, precisamos pensar a longo
prazo”, mas minha necessidade de alimentação é imediata, a minha necessidade de
transporte é imediata, a necessidade de Jéssica de ter uma educação de
qualidade é imediata.
Eu gostaria de pedir aos senhores, inclusive, que
se libertem dessa concepção errônea, extremamente equivocada, isso eu digo com
propriedade, sou eu que estou lá, inclusive além, propriedade maior até que os
grandes estudiosos. Parem de associar qualidade de ensino da educação com o
professor dentro da sala de aula, parem de associar isso daí. Porque não tem
como você ter qualidade em educação com professores três horários dentro de
sala de aula. Porque é assim que os professores multiplicam os R$930,00. R$930,00
de manhã, R$930,00 à tarde e R$930,00 à noite pra poder sobreviver. Não é pra
andar com bolsa de marca ou usar perfume francês, é pra ter condição de pagar a
alimentação dos seus filhos, é pra poder pagar a prestação de um carro, que
muitas vezes eles compram pra poder se locomover mais rapidamente de uma escola
a outra. E eles precisam escolher o dia em que vão andar de carro, porque não
tem condição de comprar o combustível.
A nossa realidade, o cenário da educação no Rio
Grande do Norte hoje é esse. Não me sinto constrangida em apresentar o meu
contra cheque, nem a aluno, nem a professor e nem a nenhum dos senhores aqui.
Porque eu penso que o constrangimento deve vir de vocês. Sinto muito, eu
lamento mas deveriam todos estar constrangidos. Entra governo e sai governo,
peço desculpa mais uma vez a você Betânia, mas não tem novidade na sua fala.
Sempre o que se solicita da gente é paciência, é tolerância e eu tenho colegas
que estão aguardando pacientemente há 15 anos, há 20 anos por uma promoção
horizontal. Professores que morrem e não recebem uma promoção.
Então, eu quero pedir à secretária, em primeiro
lugar paciência também, porque nós não aguentamos mais esse discurso, não aguentamos!
O que queremos é objetividade, como que é? Queremos sair desse impasse.
Queremos, mas como? Sem nenhuma proposta, de mãos abanando. Voltar mais uma vez
desmoralizado pra sala de aula pro aluno dizer: “professora, nós ficamos aqui
sem ter aula e só isso que vocês receberam: R$20,00 ou R$30,00? E dão
risada!
Pedimos ainda secretária: Respeito! Para que a
senhora não vá mais a mídia dizer assim: “pedimos flexibilidade” como se nós fôssemos
os responsáveis pelo caos, que na verdade só se apresenta pra sociedade quando
estamos em greve, mas que está lá, todos os dias dentro da sala de aula, dentro
da escola e em todos os lugares. Respeito! Não se refira a nossa categoria
dessa forma, não se refira, nem se refira apenas como se fosse à direção do
SINDE que está querendo fazer essa greve, não é não, são 90% da categoria.
90% da categoria no Estado inteiro,
nos interiores e aqui na capital. Pedimos aos deputados, apoio. Estejam mais
presentes, participem ali, vão à nossa Assembleia, procurem ouvir os
trabalhadores, procurem saber a realidade. Pedir à promotoria que esteja com a
fiscalização efetiva, ao Ministério Público, mas que não seja pra dizer:
“professor não pode comer desse cuscuz não porque é um cuscuz alegado”, o cuscuz
que a gente come, o cuscuz da merenda. Porque a promotoria está ali pra dizer
que a merenda é do aluno não é do professor, é assim que funciona.
Diga-se de passagem, nós não temos recurso para
nos alimentar diariamente fora de casa, não temos pra isso. São muitas questões
mais complexas, questões muito complexas que poderiam ser colocadas aqui, mas
infelizmente o tempo é curto e eu gostaria de solicitar isso em nome dos meus
colegas que comem o cuscuz alegado, em nome dos meus colegas que pegam três ônibus
pra chegarem ao seu local de trabalho, em nome de Jéssica que está sem assistir
aula nesse momento, mas que fica sem assistir aula por muitos outros motivos:
por falta de professor, por falta de merenda…
É isso que eu quero dizer…"
Assista ao vídeo do discurso da Profª Amanda Gurgel
Caso queiram conhecê-la o link para seu Blog é:
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Simoni Aquino
Idealizadora e escritora do Blog Além do RH